quinta-feira, 6 de dezembro de 2012



Sabe aquele homem bonito, inteligente, educado, gostoso, bem-sucedido, bom de cama, carinhoso, cheio dos bons modos, bem vestido, cheiroso, compreensivo, experiente, seguro, decidido, talentoso, divertido e fiel? Eu também não. E se por acaso é por ele que você está esperando toda produzida, de salto alto, decotão e maquiagem, sugestão de amiga: puxe uma cadeira – de balanço e almofadada, de preferência -, pegue uma pilha de livros para exercitar o cérebro e espere sentada – afinal, é bom evitar as tão temidas varizes nessas lindas pernocas que você usa diariamente como instrumento de locomoção e sedução.
Desde que o mundo é mundo, zilhões de mulheres esperam pelo príncipe encantado. Esteja ele montado num cavalo branco ou numa mobilete, ele precisa suprir todas as expectativas que os contos de fadas colocaram sobre os ombros dele – e mais aquelas que são um tanto quanto inapropriadas para serem expostas em histórias infantis. Amar bem, parecer bem, vestir-se bem, falar bem, ganhar bem, pensar bem, transar bem, dirigir bem. Enfim, ser o bom – cabelo na testa, sou o dono da festa, pertenço aos dez ma-a-a-a-ais. Assustados, só lhes restam duas alternativas: assumir uma certa porção ogro, correndo o risco de desagradar, ou encarnar o príncipe encantado na sua frente e contar algumas mentirinhas para sustentar o principado. E aí, o que você prefere?
O homem meio-ogro – eu respondo sem titubear. Yes, ele peidará sob o cobertor. Oui, ele arrotará na mesa do bar. Sim, ele soltará um limpo e sonoro PUTA QUE O PARIU quando o atacante do time dele perder o lance na cara do gol. Pode ser também que ele não saiba combinar a camisa e a gravata e nem explicar os princípios e as aplicações da propagação das ondas eletromagnéticas. Ou até mesmo que ele já apresente sinais de calvície aos vinte e poucos anos e que tenha uma leve barriguinha de cerveja que pende sobre a calça e a que ele, carinhosa e espirituosamente, chama de calo sexual. Sim, é esse que eu quero, é esse que eu defendo. Porque ele, certamente, vai me surpreender quando rabiscar alguns versos de próprio punho ou quando arranhar alguns acordes no violão na tentativa de agradar com um “Faz Parte do Meu Show”. Deixo o príncipe encantado para a Cinderela, o Ken para a Barbie, David Beckham para a ex-Spice Girl.
Deixo o perfeito para você, que acha que é perfeita. E aí vocês terão uma vida perfeita para exibir, uma casa perfeita para morar, uma cama perfeita para praticar um sexo limpinho de luz apagada, filhos perfeitos para pentear antes de ir à escola, um cachorrinho perfeito para abanar o rabo quando vocês voltarem do emprego perfeito – todas aquelas coisas que me dão no saco que eu nem tenho, por sinal. Só não se assuste, querida, no dia em que descobrir que – não – ele não ganhou uma bolada de herança do avô rico. Que não, ele nunca foi amigo daquele ator global que arrancava suspiros das menininhas quando vocês eram jovens. Que não, ele não estudou nos melhores colégios da cidade. E que sim, ele usa Grecin 2000. Pois é… já dizia a minha avó: “quem muito escolhe merda recolhe”.